Os adolescentes sempre querem liberdade, aquele sentimento de "se livrar da proteção dos pais" e cuidar do próprio nariz. Mas os pais nem sempre concordam com essa "liberdade", afinal, para eles, os filhos ainda não são crescidos e maduros suficientes para se virarem sozinhos. No meio desse cabo de guerra, uma das maiores conquistas é quando o jovem consegue passar da rotina de baladas e saída com os amigos para uma viagem longe dos olhos de adultos.
Segundo a psicóloga e terapeuta Cida Rabelo, do Rio de Janeiro, as atitudes do dia-a-dia do adolescente é que vão barrá-lo ou dar um passaporte para a viagem. "Tudo é relativo ao nível de comportamento e responsabilidade que cada adolescente apresenta. Se você tem um jovem de 16 anos que é um bom aluno e dá conta daquilo que se comprometeu a fazer, então é provável que ele possa dar esse passo maior. Mas pode ser também que você tenha um adolescente de 18 anos que não se compromete com aquilo que é dele, não estuda, é irresponsável. E a probabilidade de ele agir do mesmo jeito longe dos pais é muito grande", afirma.
A educação que os pais aplicam é extremamente importante e é ela que vai dar às rédeas - ou tirá-las - dos jovens. "A forma de educar reflete a maneira como os filhos se comportam no período de férias", explica a psicóloga Ana Lúcia Gomes Castello, colaboradora do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo.
A saída do filho para uma viagem acarreta diversos motivos que fazem com que os pais não queiram que ela se concretize. "A insegurança dos adultos, a imaturidade dos filhos, o medo da violência das ruas e a falta de confiança na prole estão por trás do impasse", afirma Ana Lúcia.
O processo de emancipação do jovem é algo que deve ocorrer gradualmente e naturalmente. E a confiança estabelecida entre os familiares também. De nada adianta exigir responsabilidade se os pais não ensinam os filhos a tê-la. "O adolescente precisa entender que não é suficiente ter 14, 15 ou 16 anos para ter a permissão dos pais para sair com a turma ou viajar sozinho. Torna-se necessário que durante este período de maturação emocional o adolescente tenha internalizado questões importantes como: obediência aos pais, responsabilidade, ter atitudes coerentes com as situações, cumprir os horários combinados e ter atitudes que despertem a confiança dos pais", afirma a psicóloga.
Desenvolver uma base firme para que a viagem realmente ocorra é um processo contínuo que deve se estabelecer entre os pais e o jovem. "A liberdade tem que ser proporcional à responsabilidade, conquistada aos poucos", diz Cida.
Algumas coisas podem ser feitas para que gradativamente o adolescente adquira maturidade suficiente para viajar com os amigos. Negociar é uma boa opção. "A negociação entre pais e filhos é uma arma poderosa que os responsáveis têm para conseguir colocar alguns limites demonstrando autoridade, sem autoritarismo", diz Ana Lúcia. É como se fosse uma troca: o adolescente só pode ir a tal lugar se, antes, completar as obrigações que se comprometeu a fazer.
Além disso, Cida deixa claro que pequenas atitudes como: ensinar o filho a ir ao mercado sozinho, lavar a roupa, pagar contas irão ajudá-lo a, mais tarde, obter uma maior autonomia e, consequentemente, uma maior responsabilidade. "Não é só a distância que dará autossuficiência ao jovem. O pai tem que ter em mente que, quando cresce a obrigação, aumenta o direito e também as responsabilidades. Assim o adolescente se tornará um adulto mais capaz", afirma a terapeuta.
Fora as regras estabelecidas, é sempre bom os pais desenvolverem o hábito de monitorar os filhos, levá-los e buscá-los em festas, por exemplo. "É preciso que estejam atentos ao que acontece com os filhos desde a entrada na adolescência, observando de que forma se comportam, quando se excedem. Para isto precisam conversar, ensinar, negociar, manter uma vigilância constante que os permita ter um controle a distância do que o jovem está fazendo e como está se comportando. Quando se sentirem seguros em relação ao comportamento dos filhos pode chegar, enfim, a hora de liberar a primeira viagem sozinho", ensina Ana Lúcia.
Cuidando para não controlarem os jovens e sim ensiná-los a viver, não há problemas em deixarem que respirem um pouco por si mesmos. Viajar com os amigos é apenas uma etapa dessa emancipação. Longe dos pais, eles se sentem mais responsáveis e mais adultos. Quem é que não se lembra de ter esse mesmo sentimento, nessa idade?
Por Tissiane Vicentin (MBPress)
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