(GLOBO/RENATO ROCHA MIRANDA)
O reconhecimento público de José Mayer, de 67 anos, sobre a denúncia de assédio sexual da figurinista Susllem Tonani, 28, veio hoje a partir de uma carta aberta (leia aqui) após o afastamento temporário do ator pela emissora Globo.
No cinema desde 1974 e em novelas desde 1977, o ator responsável por frases como “As palavras e atitudes são de minha personagem, não minhas” e “Me assediam menos do que mereço”, ao contrário de Tonani, não somente recebeu apoio, mas uma renovação de votos de respeito na repercussão nas redes sociais. O estigma? Este fica com a vítima.
O culto às celebridades masculinas como ele serve, no fim do dia, como uma forma de cimentar ainda mais uma cultura em que “atitudes” como esta sejam aplaudidas e incentivadas, sobre os singelos adjetivos de “pegador” e “garanhão” - o que contribuí para o silenciamento da vítima.
Desta forma, a atitude de José Mayer, tanto no desenrolar do caso, quanto na própria carta, serve para ilustrar seu conteúdo. A carta, por exemplo, pode até pedir desculpas, mas um pedido de perdão após ter negado abuso e somente após sido tomadas as devidas - e demoradas - providencias pela emissora, traz no mínimo uma sensação de superficialidade.
Essa sensação toma peso ao logo após as desculpas, ler “mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas”.
Seria interessante compreender exatamente qual é a definição de “brincadeiras” e “limites” neste caso. Oras, não há intenção de se desrespeitar assediando uma mulher que já havia deixado claro que qualquer aproximação não era bem-vinda? É uma brincadeira um ato em que viola o direito de ir e vir e de dignidade? Bem, melhor seguir. O ator continua a explicar já no próximo parágrafo: “Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito”, uma frase que lembra muito bem aquela desculpa antes de qualquer discurso preconceituoso, da mesma série “tenho até amigos que são”.
A impressão que dá é que se tenta, como lemos muito nas redes, justificar o injustificável. Ter alguém querido, seja por sangue ou afinidade, não automaticamente retira a carga cultural passada por anos a uma pessoa. O preconceito não funciona desta maneira. O machismo, tal como racismo e homofobia, não funcionam de forma lógica onde somente por amar alguém que se encaixa neste grupo alvo, deixa-se de agir ou pensar como agressor.
O ator, ao se dizer “fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas” , somente frisa que não é a presença de mulheres queridas que mudam este fato. Tampouco, ser de uma geração anterior não é uma base para sustentar atitudes como esta. É preciso, antes de tudo, vontade e caráter para mudar tudo o que foi aprendido que hoje é considerado como transgressão à direitos.
Ao pedir, no final, entendimento de seus “movimentos de mudança” às colegas toda a sociedade, me ponho no lugar da figurinista: um pedido de compreensão de um agressor à uma mulher que foi agredida e, finalmente, no lugar da sociedade, que por décadas viu um ator representar papéis machistas, mas que num piscar de olhos, agora recebe a notícia de que havia justificativa para tudo isso. Afinal, ele foi uma “vítima do sistema”, não é mesmo?
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